Além de ser meu padrinho, Luiz era meu primo. Quando eu era pequena, praticamente vivia mais na casa dos meus tios do que na minha. A família era grande (ainda é), mas eu e ele tínhamos uma afinidade que ia muito além de primo/prima ou padrinho/afilhada. Parecíamos irmãos espirituais. Ele sempre me fazia rir muito.

Era um artista. Teve barraca na feira hippie. Vendia artesanato feito por ele. Cintos, pirogravuras, cordões. Me lembro até hoje de um cinto que ele fez para mim. Todo colorido, com gravações no couro. Eu adorava aquele cinto.

Tocava piano. Violão. Cantava. Me ensinava um monte de músicas. Mas o mais importante foi que ele me ensinou a gostar de Beatles, Renaissance, Pink Floyd…

Depois que o pai faleceu, há 10 anos, ele perdeu o gosto pela vida. Andava deprimido, não se cuidava, se afastou muito de todos.

Hoje, aos 53 anos de idade (ele me batizou bem novinho), ele resolveu nos pregar uma última peça. Estava indo para o trabalho (a fábrica herdada do pai) e faleceu antes mesmo de chegar lá. Foi com essa notícia que eu acordei. Passei o dia ao lado da minha tia e dos primos todos. Chorei que nem criança desmamada, quase desmaiei de fraqueza no cemitério.

Durante o velório, eu só conseguia pensar em uma música, que adaptei mentalmente. Essa música se repetiu o dia inteiro (tudo na minha vida tem que ter trilha sonora):

Close your eyes

And I’ll kiss you

Tomorrow

I’ll miss you

Remember

I’ll always be true

And then while you’re away

I’ll think of you

Everyday

And I’ll send

All my loving

To you

Vá em paz, Luiz. Encontre seu pai, sua felicidade perdida e me espere aí para o show de rock com participação especial de John e George.

Eu e meu padrinho, Luiz

(Foto tirada na minha formatura, em março de 2004. Minha última foto com Luiz.)